sexta-feira, 21 de junho de 2013

A Temporalidade do Inconsciente: O Après Coup (Parte 2)


A psicanálise não atende às causas, mas sim: do que faz causa em après coup. O que poderia não ter ocorrido, mas ocorreu... estas contingências fazem causa!

                        Podemos pensar nas ciências conjecturais, que através dos efeitos vamos deduzir, construir algo lá. Quero dizer: partimos dos efeitos para algo compreender do que foi isso que produziu tais efeitos. (Diferente da ciência positivista que tem uma hipótese.) Partindo desta expressão: isso que produziu tal efeito... chegamos ao conceito de trabalho. O termo ruptura – e o termo temporalidade do Inconsciente é uma ruptura quanto ao tempo que havia anteriormente – (exportado do materialismo histórico) é efeito produto de um trabalho.
                        Quer dizer que este tempo “après coup” (futuro anterior, ou “só depois”) foi produzido por Freud com um trabalho sobre o discurso de suas/seus pacientes e sobre sua intervenção. Pudemos, a partir de então, romper como o tempo cronológico e supor que todos nós –sujeitos psíquicos – vivemos submetidos a outro tempo (que nos é desconhecido mas que nos sobredetermina). Um tempo com outras leis, mas que possui sua lógica.
                        Como no sonho manifesto, ou sonho contado, a partir daí se fará uma construção de o que é que esteve lá produzindo este relato do sonho, por dedução, por um trabalho em transferência, na associação livre, o psicanalista interpretará algo que além de falar deste sonho latente, constrói algo que não estava antes... pois só temos os efeitos, mas isso é tema para as próximas aula sobre o texto, a obra A Interpretação dos Sonhos.
                       
                        Voltando ao que Lacan escreve na Posição do Inconsciente: O nachträglich ou o après coup (ou o só depois) afirma que Freud nos diz que segundo o qual o trauma se implica no sintoma, mostra uma estrutura temporal de ordem mais elevada.
                        E retoma o tema sobre a causa, dizendo que ela perpetua a razão que subordina o sujeito ao efeito do significante.
                        É somente como instância do inconsciente, do inconsciente freudiano, que se apreende a causa no nível do qual um Hume tenciona desalojá-la, e que é justamente aquele em que ela ganha consistência: a retroação do significante em usa eficácia, que é absolutamente necessário distinguir da causa final.
                       
                        Ao tomar a teoria do valor, que como escrevemos na primeira parte deste texto, também causou uma ruptura, assim como a psicanálise. O tempo que o materialismo histórico maneja pode nos auxiliar também a compreender a temporalidade do inconsciente, o après coup. Agora vejamos: Este tempo impõem a palavra recorrência, o que quer dizer que – diria Marx -, na sociedade feudal, eu não poderia saber que ia vir a sociedade burguesa. Mas posso, desde a sociedade burguesa, ler na sociedade feudal aquelas causas que produziram a sociedade burguesa. Na sociedade burguesa atual, não posso saber o que vai ocorrer depois, mas, posso, depois de passado, encontrar desde aí, nesta pré-história, os modos em que se produziu essa nova situação.
                       
                        O inconsciente é, entre eles (sujeito e Outro), seu corte em ato.

                        Freud, no desespero em demonstrar que o tempo do Inconsciente era diferente do tempo da consciência, chega a dizer que no Inconsciente não há tempo. E com isso nos diz que o tempo do relógio não serve para medir o tempo dos processos inconscientes.
                       
                         Freud escreve numa carta a Fliess de 25 de maio de 1897:
                        “Há bons motivos para suspeitar que o despertar do material reprimido não se dá por acaso, senão se ajusta a determinadas leis evolutivas. E também de que a repressão avança do material recente para trás,  retroativamente e aqui então podemos utilizar a expressão après coup e que afeta primeiro os últimos acontecimentos”.

                        Partindo daí, seguindo este caminho, dizemos que o Inconsciente se forma de maneira descontínua. O tempo para nossa subjetividade como humanos não é como o tempo cronológico que transcorre sempre igual. Assim a temporalidade do inconsciente além de discorrer ao contrário do tempo cotidiano que transcorre do passado para o futuro, a temporalidade do inconsciente transcorre do futuro para o presente e o que inclusive chamamos de passado, mas que está para o sujeito presente, e pode inclusive ser transformado. Além disso, a temporalidade do inconsciente é descontínua, como vimos aquilo que desperta o material reprimido pode ser algo que se passa na viva do sujeito no tempo cronológico talvez algumas décadas depois desta marca inconsciente.

                        Assim podemos pensar que estas marcas são potencializadas conforme algo atual se articule com esta marca reprimida. O que associo como Lacan fala das marcas no inconsciente, as inscrições mnêmicas (como chama  Freud), que são como marcas de gazelas sobre uma pedra. O que podemos lembrar faz parte do sub-consciente; enquanto que as marcas mnêmicas inconscientes são as que fazem mover o motor da estrutura do sujeito. Mas como disse Freud nesta frase que citamos da carta a Fliess, não é por acaso, mas guarda uma relação com o desejo...
                       
                        O que se modifica com a interpretação psicanalítica não é o passado em si, os acontecimentos que passaram, pois isso está perdido, mas nossa apropriação disso que pensamos ter vivido.

                                         

Lúcia Bins Ely

abril de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Temporalidade do Inconsciente: O Après Coup (Parte 1)


                                   
     Jacques Lacan, foi um psicanalista francês que fez um insistente trabalho de releitura de Freud e de transmissão da psicanálise na segunda metade do século XX.
     Ele, Lacan, em seu texto Posição do Inconsciente no Congresso de Bonneval (1960, e retomado em 1964) esclarece e recorda, num parêntese, sobre o termo nachträglich escreve “que fomos o primeiro a extraí-lo do texto de Freud”.
     O Nachträglich de Freud foi traduzido (pois criticou, achou muito primária a tradução que havia deste termo ao francês) por Lacan com o termo Après coup e, só depois foi a sugestão de MDMagno para a tradução ao português no Seminário I de Lacan.

     Quando dizemos uma frase: por exemplo, “Seu pai...” e a interrompemos, não se sabe o que ela quer dizer. É só quando eu pronunciar a última palavra, é só no ponto final da frase, que o sentido vai ser possível, por retroação: “Seu pai morreu.”
     Assim também um livro, só ao seu término construímos inúmeras compreensões sobre ele. E, a morte de uma pessoa é que vai também fechar as significações da vida dela. Essa maneira de conhecermos algo só depois de algo mais acontecer, é o que chamamos o tempo do inconsciente, o só depois, o après coup. Enquanto estamos vivendo algo, não podemos ter ideia do que constitui, de compreender este ato. Um ato só é compreendido, e especialmente, em psicanálise, um ato, ou um fato, só é convertido em fato psíquico em uma segunda vez, que a constitui, como ato, ou fato psíquico.
     Ora vejamos o exemplo que o próprio Freud traz ao falar de Joãozinho, Juanito, ou pequeno Hanz, um dos seis grandes casos clínicos que trabalha em sua obra.
     Neste caso, Freud emprega o termo Nachträglichkeit que é um neologismo dele (no caso substantivou o termo Nachträglich, que é um adjetivo).
     Neste caso do Joãozinho, vemos que é “só depois” que Joãozinho pode se dar conta que...
                        Foi só num momento posterior à castração em si que Joãozinho se deu conta “das ordens e ameaças feitas na infância”. E Freud afirma que há casos de pacientes nos quais o intervalo entre o primeiro fato e esta contribuição, que como que constrói significação ao fato primeiro, pode chegar a muitas décadas.
     Transcrevo aqui Freud textualmente para podermos tomar como ponto de partida deste tema.

                        “Constituiria um dos processos mais típicos se a ameaça de castração produzisse um efeito adiado (nachträglich), e se agora, um ano e três meses depois, ele fosse oprimido pelo medo de ter de perder essa preciosa parte do seu eu. Em outros casos de doença podemos observar uma semelhante operação adiada (ou um semelhante efeito retardado ou ainda “retroativa”) (nachträgliche Wirkungen) de ordens e ameaças feitas na infância, casos nos quais o intervalo chega a cobrir várias décadas, ou até mais. Conheço até casos nos quais uma ‘obediência adiada’ (o sentido é de obediência  a posteriori , como se a obediência viesse a cumprir posteriormente uma ordem antiga) (“nachträcliche Gehorsam”) sob influência da repressão desempenhou um papel preponderante na determinação dos sintomas da enfermidade.
                        “A parcela de esclarecimento dado a Joãozinho, pouco tempo antes, quanto ao fato de que as mulheres não possuem ‘fazedor de pipi’ (como ele chamava) estava fadada a ter apenas um efeito destruidor sobre sua autoconfiança e a ter originado seu complexo de castração.  Por essa razão é que ele ofereceu resistência à informação, e pela mesma razão ela não produziu efeitos terapêuticos. Seria possível que houvesse seres vivos que não tivessem ‘fazedor de pipi’? Se assim fosse, não mais se poderia duvidar de que eles pudessem fazer desaparecer seu próprio pipi e, se assim fosse, transformá-lo em mulher!” 

(Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos -1909). (Os esclarecimentos dos termos em alemão estão no Dicionário Comentado do Alemão de Freud de Luiz Hanns – 1996).



quinta-feira, 2 de maio de 2013

A ruptura das ciências




3. A ruptura das ciências:
Ruptura é produto efeito de um trabalho teórico. O mecanismo da produção da ciência gera um distanciamento da realidade, há uma ruptura com a realidade. Cada vez que for produzido um conceito, um símbolo, vai acontecer esse distanciamento da experiência sensível.
Exemplo de ruptura: onde o sol nasce e onde ele se põe? Uma experiência diária, milenar. Olho o sol, reconheço sua existência como um astro celeste, mas se desconheço seu movimento real confundo seu movimento aparente, que percebo com os meus sentidos, com o movimento real. Utilizando apenas a percepção produzo uma teoria com a ilusão dos meus sentidos e digo: o sol nasce a leste e se põe a oeste. Hoje podemos dizer que essa é uma noção imaginária, porque já temos a teoria copernicana. Teoria revolucionária que nos ensina que a percepção dos nossos sentidos, o mais evidente, é precisamente ilusório.
Copérnico, com sua produção teórica, produziu uma ruptura com as teorias anteriores descentrando a terra do centro do universo.
      Esse conhecimento científico já a tempo conquistado segue sendo cotidianamente negado. Mesmo que tenhamos estudado a teoria heliocêntrica podemos ser enganados pela nossos sentidos e continuar afirmando que o sol nasce a leste e se põe a oeste, ou seja que o sol gira ao nosso redor. Essa é uma ilusão produzida pelos nossos dos sentidos. Sentidos que costumamos confiar quando dizemos “só vendo para crer”.  A certeza sensível produzida pelos sentidos, o que podemos dizer, ver, tocar, pensar conscientemente é onde se gera nossas ilusões e as noções pré-científicas.  Vemos a aparência, o sol girar ao redor da Terra.
Outras rupturas causadas por teorias foram as de Darwin ( o homem não é o centro da biologia, apenas um elo) e Marx ( produto das suas relações sociais). Cada um dos descentramento produz uma ferida narcísica na humanidade.
A psicanálise provoca outro descentramento quando coloca o conceito de inconsciente no centro da teoria sobre o psiquismo humano.

4. As Rupturas da psicanálise

A psicanálise produz três rupturas:
1) Ruptura  epistemológica. Na psicanálise a obra A Interpretação dos Sonhos funda o campo psicanalítico porque produz um objeto de conhecimento: o Inconsciente.
Até 1900 a consciência era o centro de todos os fenômenos psíquicos. As neuroses, principalmente a histeria, eram confundidas com um capricho ou uma produção orgânica que afetava não se sabia por que, os processos psíquicos. Nesse campo científico Freud modificou a técnica a pedido de uma paciente, Emmy que pediu: “por favor, deixe-me contar os sonhos.”
Essa mudança de posição, onde o paciente relata e Freud escuta o discurso, leva-o a descoberta do inconsciente  e a escrever a obra Interpretação dos Sonhos.  Aqui podemos constatar a importância da escrita na produção dessa nova ciência e a diferença de outros processos como os mágicos, religiosos e os ideológicos.
        A ruptura produzida ao tirara consciência do centro do psiquismo faz com que o “Penso, logo existo” de Descartes (1596- 1650) torna-se “Penso onde não sou”. O pensamento é inconsciente, um saber insabido pelo sujeito. Rompe com a idéia de ciência do homem e produz o conceito de sujeito do inconsciente.

O conceito de inconsciente costuma provocar resistências porque fere o Eu narcisista, por afirmar que o principal do sujeito é desconhecido por ele próprio e ainda mais que não tem sobre o mesmo nenhum controle dos seus efeitos no seu psiquismo, na sua vida, suas relações, suas escolhas, etc... 

        2) A segunda ruptura provocada pela psicanálise é no nível da filosofia das ciências. Na época de Freud as ciências naturais pensavam que se conhecêssemos todas as causas poderíamos determinar todos os efeitos. Era uma ciência de causas. A psicanálise inversamente parte dos efeitos, os produtos finais do trabalho inconsciente, ou seja, o sonho manifesto, o sonho contado pelo sonhante, a fala.  É uma questão temporal, parte do presente para o passado. Para a psicanálise, o passado não existe até que seja interpretado. O que fixa como material o passado são os fatos presentes. O que digo da minha infância é a infância que eu tive. Isso tem haver com o tempo do inconsciente, après coup traduzido ao português como “Só depois”.
   A psicanálise é uma ciência conjetural, ou seja, parte dos efeitos e produz as causas, como nos mostra Freud nessa citação:
“Temos que transformar o sonho manifesto no sonho latente e indicar como, na psique do sonhador, esse último tornou-se aquele. A primeira parte é uma tarefa prática, cabe à interpretação do sonho, necessita de uma técnica; a segunda é teórica, deve esclarecer o processo suposto do trabalho onírico e pode ser somente uma teoria. As duas, tanto a técnica da interpretação dos sonhos como a teoria do trabalho do sonho, têm de ser criadas."

         3) A terceira ruptura revela a importância da sexualidade na vida do sujeito. A partir da psicanálise já não se pode negar a importância da vida sexual nos humanos, do desejo sexual infantil reprimido. Entendendo por sexual algo muito interessante que é falar, quer dizer sexual para a psicanálise é tudo aquilo que é tocado pela palavra.
      A psicanálise é uma ciência transformadora, ao descentrar o sujeito abre novas possibilidades. O primeiro que teve que se transformar com a teoria psicanalítica foi Freud. Dizemos então que ele não é o pai da psicanálise, mas sim o primeiro filho. Nas palavras de Freud, em uma carta de 1923, diz:
“ Passei realmente grande parte da minha vida
trabalhando na desconstrução de minhas
próprias ilusões e nas das humanidade.”


Anelore Schuamnn
psicanalista
( A Psicanálise: Ruptura e abertura a um novo pensamento científico
parte 3 -  Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S. FREUD)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A hipnose e a invenção da psicanálise (Parte 2)



Outro acontecimento importante que marcou Freud foi o relato da experiência de um médico também de Viena, o Dr. Josef Breuer,  conceituado médico de família, amigo de Freud, com o qual mantinha frequentes conversas sobre assuntos científicos.
Freud se interessou muito pelo relato que Dr. Breuer fez a respeito de um tratamento que realizou em 1881-82 com hipnose. A paciente era uma mulher altamente dotada que sofria de grave histeria. Essa paciente, a qual Breuer chamou de Ana O., apresentava paralisia com contraturas, inibições graves e estados de confusão mental. Esses sintomas tiveram melhoras quando ele colocou a paciente em hipnose profunda e a fez contar o que lhe oprimia o espírito. Hipnotizada ela recordava e fazia conexões dos sintomas com as vivências fortemente emocionais quando cuidou de seu pai doente. Os sintomas haviam surgido quando fortes impulsos foram reprimidos. Por exemplo: A paciente contou a Breuer que, quando escutou uma música na casa vizinha e teve vontade de ir dançar, repreendeu-se de ter tido esse pensamento estando seu amado pai  muito doente. Assim, no lugar da ação omitida, ir dançar, apareceu uma tosse persistente.
O procedimento terapêutico que Breuer utilizava para tratá-la consistia em induzir a enferma, sob hipnose, a recordar os traumas esquecidos e a reagir a eles com intensas exteriorizações do afeto. Esse procedimento foi chamado de catarse. O objetivo terapêutico era fazer com que o montante de afeto empregado na manutenção do sintoma tomasse as vias normais, onde podia chegar à descarga sem causar sintomas.
O interesse de Freud pelo caso fez com que o mesmo fosse relatado em seus detalhes por Breuer e depois escrito no livro que produziram em conjunto em:  Estudos sobre a histeria. Esse livro, publicado em 1895, relata atendimentos clínicos e de como o sintoma dos pacientes se originaram do represamento de um afeto, energia psíquica que é transformada num sintoma de conversão. O sintoma histérico surge quando o afeto de um processo psíquico bastante investido afetivamente é reprimido e se converte em inervações somáticas (conversão).
Portanto, as pacientes não mentiam, nem fingiam como muitos pensavam, padeciam de uma enfermidade psíquica. Freud referindo-se ao caso de Ana O. escreveu:

“Pela primeira vez, um enigmático caso de histeria foi penetrado e suas manifestações patológicas revelaram-se dotadas de sentido.” 
Os tratamentos clinicos que Freud começa a realizar com essas pacientes eram tratamentos muito diferente do tratamento médico até então. Não usava o olho clinico, nem um conhecimento cientifico previamente construído. Ele próprio se sente surpreso com o rumo que foi tomando o trabalho que estava desenvolvendo. Inicia a discussão do caso Elisabeth Von R , nesse mesmo livro,  dizendo:
“Eu nem sempre fui um psicoterapeuta. Na verdade, fui preparado assim como outros neuropatologistas para empregar diagnósticos locais e eletroprognósticos. Portanto, causa-me ainda estranheza verificar que os relatos de casos que escrevo possam ser lidos como novelas e que, como se poderia dizer, careçam de cunho científico. Tenho de consolar-me com a reflexão de que é a natureza do assunto que é evidentemente responsável por isso, e não qualquer preferência minha. Diagnóstico local e as reações elétricas não levam a nada no estudo da histeria, enquanto uma exposição pormenorizada dos processos psíquicos, tal como estamos habituados a encontrar nas obras de escritores e poetas, me permite chegar, com o emprego de algumas fórmulas psicológicas, a alguma compreensão sobre o curso dessa doença.”
Localização e prognóstico fazem parte da ciência médica. Na escritura do livro A Interpretação dos Sonhos Freud construiu o conceito de um novo objeto de conhecimento: o Inconsciente. É em função das características desse objeto que as ciências humanas não são adequadas para fazer avançar os estudos das questões relacionadas ao psiquismo humano.
Para que a descoberta do inconsciente não fosse associada apenas às pessoas enfermas, Freud escreveu a obra A Interpretação dos Sonhos,
Sonhar, sonhamos todos,
os sujeitos ditos “normais” e os doentes.

A psicanálise é uma ciência conjectural, progride por interpretação. Après Coup, só depois saberemos. Freud não tinha hipóteses fixas prévias, tinha perguntas, se deixou levar pelo próprio estudo e foi surpreendido pelas descobertas. Diferente das ciências positivistas que têm uma hipótese que será comprovada ou refutada, Freud estava aberto às novidades do descobrimento.

Escutou também o que os cientistas da época falavam sem saber, um conhecimento que estava circulando, do qual se faziam comentários jocosos,  chistes, um saber inconsciente, mas que até então ninguém tinha levado a sério numa pesquisa rigorosa e sem preconceito.

Esses registros e estudos clínicos mostram a importância da escrita,  para o estudo teórico e prático da psicanálise. A psicanálise é uma nova escritura sobre a história relatada pelo paciente. O relato produzido no divã é o mais próximo da escrita. Escrita de uma nova história e produção de outra vida, dirá Lacan.

Também podemos pensar que não é uma mera coincidência que a  descoberta do inconsciente tenha sido realizada por um grande leitor dos clássicos e de poesia. Freud recebeu o Prêmio Goethe de Literatura pelo conjunto de sua obra. Um autor contemporâneo de Freud disse que ele era “Um científico num corpo de poeta.”


Anelore Schuamnn
psicanalista
(A Psicanálise: Ruptura e abertura a um novo pensamento científico
parte 2 -  Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S. FREUD)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Psicanálise: Ruptura e abertura a um novo pensamento científico (parte 1)



A psicanálise nasceu com o século XX com a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos de S. Freud, escritura que apresenta ao mundo algo novo: o inconsciente. 
Nas Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise 1933 -  Revisão da Teoria dos Sonhos Freud escreveu:

 “O conceito de inconsciente designa o ponto de virada da ciência, faz a passagem dos procedimentos psicoterapêuticos para a psicologia da profundidade. A teoria do sonho é o que há de mais característico e próprio dessa jovem ciência, um pedaço de terra nova, subtraído da crença popular e do misticismo. A estranheza das afirmações que ela teve que fazer conferiu-lhe a função de um xibolete cujo emprego decide quem se torna um seguidor e quem não consegue apreendê-la.” 
Para poder se aproximar da psicanálise é preciso estudar a Obra A Interpretação dos Sonhos, fazer uma leitura produtiva, transformadora. Nesse seminário, esse é o primeiro texto de Freud que vamos estudar, vamos dedicar nove aulas para o estudo dessa obra.

 1.   A hipnose e a invenção da psicanálise


       A história do descobrimento freudiano começa anos antes e está relacionado com a busca de respostas para fenômenos que desafiavam a ciência da época: as enfermidades psíquicas, principalmente a histeria,  e os fenômenos criados pela hipnose.
Em Resumo da Psicanálise ensaio de 1924 escrito para a Enciclopédia Britânica Freud diz:

“Dificilmente podemos exagerar a importância do hipnotismo no surgimento da psicanálise. Seja no aspecto teórico, seja no terapêutico, a psicanálise administra um legado que herdou do hipnotismo.”

Os estudos da histeria e da hipnose levaram Freud à descoberta do inconsciente. Como se deu isso?

Médico clínico em Viena, Freud tratava das “doenças nervosas” como eram chamadas na época as neuroses, utilizando as  técnicas disponíveis entre as quais a hipnose. Foi para a França aprimorar essa técnica com os maiores especialistas e assistiu várias demonstrações de hipnose entre os anos de 1885 e 1889. Ficou fortemente impressionado com os experimentos de Charcot e outros que provocavam em pacientes sintomas artificiais pela sugestão durante a hipnose. Sintomas com as mesmas características apresentadas pelos histéricos. Com hipnose, os médicos também podiam retirar um sintoma, deslocar sua localização ou dar uma ordem que o paciente realizava sem seu conhecimento consciente.

Em 1889 Freud foi a Nancy realizar um curso com o renomado Dr. Bernheim, excelente hipnotizador. Desse curso Freud relatou o seguinte experimento: “O médico entra na enfermaria do hospital, coloca seu guarda-chuva a um canto, hipnotiza um dos pacientes e lhe diz: ‘Vou sair agora. Quando eu entrar de novo, você virá a meu encontro com o guarda-chuva aberto e o segurará sobre minha cabeça.’ O médico e seus assistentes deixam então a enfermaria. Assim que retornam, o paciente, que não está mais sob hipnose, executa exatamente as instruções que lhe foram dadas enquanto hipnotizado. E o médico o interroga: ‘O que é que você está fazendo? Qual é o significado disso tudo?’ O paciente fica claramente embaraçado. Faz alguma observação desajeitada, tal como: ‘Como está chovendo lá fora, doutor, achei que o senhor abriria seu guarda-chuva na sala antes de sair.”

Essa argumentação do paciente, efetuada impulsivamente, busca oferecer algum tipo de motivo para seu comportamento aparentemente insensato. 

Experimentos como esses criaram perguntas no espírito investigativo de Freud.  Onde fica a ordem do médico que o paciente executa sem lembrar? 

A convicção da existência de poderosos processos psíquicos que permanecem ocultos à consciência humana era uma noção que Freud escutou de alguns médicos, porém nenhum deles levou adiante a investigação nesse campo.

Anelore Schuamnn
psicanalista
(A Psicanálise: Ruptura e abertura a um novo pensamento científico
parte 1 -  Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S. FREUD)

terça-feira, 16 de abril de 2013

As Ciências Humanas Parte 2


                 JACQUES LACAN

     Já Jacques Lacan em seu texto: Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise (apresentado no Congresso de Roma em 1953) nos diz que a psicanálise desempenhou um papel na direção da subjetividade moderna, e não pode sustentá-lo sem ordená-lo pelo movimento que na ciência o elucida.
     É esse o problema dos fundamentos que devem assegurar à nossa disciplina seu lugar nas ciências: problema de formalização.
     Lacan coloca que é a função simbólica que situa a psicanálise no cerne do movimento que instaura uma nova ordem das ciências, com um novo questionamento da antropologia.
     E afirma que essa noção já estava na ciência verdadeira, (como chama, a que parte do Teeteto[1]). Essa noção, diz, foi que se degradou com a inversão positivista que, colocando as ciências do homem no coroamento do edifício das ciências experimentais, na verdade as subordinou a estas.
     Mas hoje em dia, e Lacan fala em 1953, as ciências conjecturais (humanas) vieram resgatar a noção da ciência de sempre, elas nos obrigam a rever a classificação das ciências que herdamos do século XIX, num sentido que os espíritos mais lúcidos denotam claramente.
     Basta acompanharmos a evolução concreta das disciplinas para nos apercebermos disso.
     E nos dá o exemplo da linguística, já que é esse o papel que ela desempenha na vanguarda da antropologia contemporânea.
     A forma de matematização em que se inscreve a descoberta do fonema, como função dos pares de oposição compostos pelos menores elementos discriminativos captáveis da semântica, levou Lacan aos próprios fundamentos nos quais aponta a teoria final de Freud, ou seja, numa conotação vocálica da presença e da ausência, as origens subjetivas da função simbólica.
     E aí faz a pergunta: não é patente que um Lévi-Strauss[2], ao sugerir a implicação das estruturas da linguagem e da parte das leis sociais que rege a aliança e o parentesco, já vai conquistando o terreno mesmo em que Freud assenta o inconsciente?
     Assim sendo, é impossível não centrar numa teoria geral do símbolo uma nova classificação das ciências em que as ciências do homem retomem seu lugar central, na condição de ciências da subjetividade. Indiquemos o princípio disso, que não deixa de invocar uma elaboração.
     Lembro de ter escutado de meu professor de Ética no Científico,
que o homem foi à lua, e chega em casa e briga com a mulher. Numa clara crítica ao tecnicismo e ter deixado por décadas de lado a subjetividade humana.
     No prefácio deste texto, que também é conhecido como o Relatório do Congresso de Roma, Lacan colocou a seguinte epígrafe:
     “Em particular, não convém esquecer que a separação entre embriologia, anatomia, fisiologia, psicologia, sociologia e clínica não existe na natureza, e que existe apenas uma disciplina: a neurobiologia, à qual a observação nos obriga a acrescentar o epíteto humana, no que nos concerne. (Citação escolhida para exergo de um Instituto de Psicanálise em 1952)”
                       
                       Exemplos: - o primeiro, matemático: primeiro tempo, o homem objetiva em dois números cardinais duas coleções que contou; segundo tempo, realiza com esses números o ato de adicioná-los (ex. de Kant, Crítica da razão pura).
                        - o segundo – histórico: primeiro tempo, o homem que trabalha na produção em nossa sociedade inclui-se na categoria dos proletários; segundo tempo, em nome desse vínculo, ele faz greve geral.
                        Esses dois exemplos se cruzam numa dupla inversão: a mais subjetiva ciência forjou uma nova realidade, as trevas da divisão social armam-se de um símbolo atuante.
                        Assim Lacan argúi que já não parece aceitável a oposição que se traçaria entre as ciências exatas e aquelas para as quais não há por que declinar da denominação de conjecturais, por falta de fundamento para essa oposição.
                        Essa frase trago literalmente pois me parece formidável: “Pois a exatidão se distingue da verdade e a conjectura não impede o rigor.”
                        E se a ciência experimental herda a exatidão da matemática nem por isso é menos problemática na sua relação com a natureza.
                        Se abordamos poeticamente quando nosso vínculo com a natureza nos incita ... se não é seu próprio movimento que encontramos em nossa ciência,
                        “... essa voz
                        Que se reconhece ao soar
                        Já não ser voz de ninguém
                        Como é de bosques e mar,”
                        (Paul Valéry)

     A psicanálise só dará fundamentos científicos à sua teoria e à sua técnica ao formalizar de modo adequado as principais dimensões de sua práxis, que no dizer de Lacan são: a teoria histórica do símbolo, a lógica intersubjetiva e a temporalidade do sujeito.




[1] Diálogo platônico sobre a natureza do conhecimento. Nele aparece, talvez pela primeira vez explicitamente na filosofia, o confronto entre verdade e relativismo.

[2] LÉVI-STRAUSS, Claude. “Language and the analysis of social laws”, American Anthropologist,1951.



Lúcia Bins Ely
psicanalista
Partes da aula de abertura do Seminário Introdução à Obra de Sigmund Freud

segunda-feira, 15 de abril de 2013

As Ciências Humanas Parte 1


                        FREUD

Freud, em seu texto História do Movimento Psicanalítico, escreve que : A Interpretação dos Sonhos, o livro sobre O Chiste e sua relação com o Inconsciente e outros trabalhos seus haviam mostrado desde o princípio que as teorias da psicanálise não podiam permanecer limitadas ao campo da Medicina, mas sim que eram suscetíveis de aplicação a outras diversas ciências de espírito.

Vemos aí a psicanálise se desprendendo da Medicina, daquilo ligado ao corpo fisiológico humano, e adentrando um campo mais próximo à antropologia (para citar Estrutura de parentesco de Claude Lévi-Strauss...) e à Linguística (Ferdinand de Saussure). Ou melhor, vemos que Freud partiu da medicina para chegar nas ciências de espírito. A psicanálise já nasce aí.

Em outro texto: Autobiografia (1925), Freud expressa que seu interesse eram os valores filosóficos, no entanto, primeiro procurava estas questões na fisiologia anatômica do corpo humano. Quando estudando com Charcot propôs um estudo que comprovava que as dores histéricas não estavam marcadas pelo mapa fisiológico do corpo, mas por concepções vulgares, populares, ou subjetivas, do corpo. Como exemplo traz uma histérica que diz estar sentindo dor no coração, e refere a outro lugar no corpo não onde anatomicamente este está localizado. Ou seja, o corpo físico, a medicina que aborda o fisiológico humano não é capaz de dar conta da neurose!

Freud se deu conta de que estudar anatomicamente as lesões cerebrais, com isso ele não podia auxiliar os pacientes que sofriam destas enfermidades. E era isso o que ele queria: auxiliá-los em suas enfermidades. Assim se norteou a estudar: o que era isso que produzia a paralisia na neurose histérica, por exemplo.

E assim foi enveredando para as ciências humanas, ou como ele chamava: ciência de espírito. Para enfim se dizer: “médico de almas”.

                        FILOSOFIA

Na carta de 1º de janeiro de 1896 a Wilhelm Fliess, Freud escreve:  “Observo que, pela via tortuosa da clínica médica, você está alcançando seu ideal primeiro de compreender os seres humanos enquanto fisiologista, da mesma maneira que alimento secretamente a esperança de chegar, por essa mesma trilha, a minha meta inicial da filosofia. Pois era isso o que eu queria originalmente, quando ainda não me era nada clara a razão de eu estar no mundo.”
                        Freud quer auxiliar os pacientes em seu sofrimento, não apenas uma teoria (como é a filosofia) quer uma prática... E chamamos, então na ciência de práxis: com suas investigações clínicas transformava a teoria. Formulando então esta presença da psicanálise como uma ciência de espírito, ou ciência humana. Mas com uma práxis.

Freud a chama: a nova ciência. Que está situada nas humanas, mas o seu rigor científico a localiza como ciência. Com um objeto e um método diferentes das ciências positivistas, mas nem por isso deixa de ser ciência.

A filosofia e a psicanálise possuem as mesmas questões: a vida, a morte, a sexualidade, a ética, a verdade... Mas abordam tais questões de maneiras diferentes.
Em sua autobiografia, Freud revelou que em seus anos juvenis não sentia predileção especial nenhuma pela atividade médica, nem tampouco sentiu depois. O que o dominava era uma espécie de curiosidade relativa mais às circunstâncias humanas...

Sua profunda dedicação aos escritos bíblicos (iniciada quase ao mesmo tempo em que aprendeu a arte da leitura) teve, como o reconheceu muito depois, um prolongado efeito na linha de seus interesses.
Freud também nos revela que foi a leitura do ensaio goethiano A Natureza, escutado numa conferência de popularização científica, que o fez decidir finalmente  a inscrever-se na Faculdade de Medicina.

E, mais adiante, sobre sua experiência universitária disse que essa lhe impôs a verdade do Mefistófeles goethiano: “Em vão vagais pelos domínios da ciência; ninguém aprende senão aquilo que lhe está dado a aprender”.



Lúcia Bins Ely
psicanalista
(*Partes da aula de abertura do Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S. FREUD)

domingo, 17 de março de 2013

Palestra: O Inconsciente Freudiano na Interpretação dos Sonhos


Seminário de Formação em Psicanálise: Iniciação à Obra de S. Freud


Venha estudar psicanálise na Après Coup Porto Alegre.

INICIAÇÃO À OBRA DE SIGMUND FREUD
Inscreva-se (51) 3024 2829 ou aprescoupportoalegre@gmail.com

PROGRAMA: 

INTRODUÇÃO:
- As ciências do homem 08 de abril 
- A Psicanálise: Ruptura e abertura a um novo
pensamento científico 15 de Abril 

PRIMEIRA TÓPICA - A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
(1900 – 1920)
- A temporalidade do inconsciente: O Après Coup 22 de Abril 
- Método e desenvolvimento da tese 29 de abril 
- A deformação onírica 06 de Maio 
- Material e fontes dos sonhos 13 de maio 
- A elaboração onírica 20 de Maio 
- Psicologia dos processos oníricos: O esquecimento dos sonhos 27 de maio 
- A regressão 03 de Junho 
- O sonho de angústia 10 de Junho - O processo primário e o secundário 17 de Junho 


PSICOPATOLOGIA DA VIDA COTIDIANA
- O chiste e sua relação com o inconsciente 24/06 e 1º de Julho
- O esquecimento dos nomes próprios 08 de Julho 
- O ato falho 15 de Julho 

(férias de 16 a 31 de julho)

TRÊS ENSAIOS PARA UMA TEORIA SEXUAL
- As aberrações sexuais 05 de Agosto
- Sexualidade infantil 12 de Agosto 
- A metamorfose da puberdade 19 de Agosto 

A METAPSICOLOGIA 
- O Inconsciente 26/08 e 02 de Setembro 
- A repressão 9 e 16 de Setembro 
- Lição XXIII: Vias de formação do sintoma 23 de Setembro 

SEGUNDA TÓPICA (1920-1939)
- Mais além do princípio do prazer 30/09, 07 e 14 de Outubro 
- O Eu e o Isso 21, 28/10 e 04 de Novembro 
- Lição XXXII: A angústia e a vida intuitiva 11 de Novembro
- Revisão 18 de Novembro
- Apresentação de trabalhos 25 de Novembro

TOTAL DE HORAS AULA: 50 horas

segunda-feira, 11 de março de 2013

Quem Somos



           Après Coup  Porto Alegre psicanálise e poesia é um novo espaço destinado à formação de psicanalistas e à difusão da psicanálise. Estamos associados à Après Coup Sociedade Psicanalítica da Argentina.

           A psicanálise é um valioso instrumento de pensamento para a vida em seus múltiplos aspectos: afetivo, profissional e social. 

Contamos com profissionais de sólida formação e ampla experiência para atender às necessidades da comunidade.


A Après Coup Porto Alegre oferece:

a) Formação e cursos de psicanálise:

- Seminários de formação em psicanálise aberto a todos os profissionais interessados em estudar psicanálise e para aqueles que queiram fazer formação como psicanalistas.

- Os profissionais que fazem formação na Après Coup podem realizar atendimento à comunidade com supervisão de psicanalistas da instituição;

- Cursos de psicanálise sobre temáticas de interesse geral aberto à comunidade;


b) Atendimento Psicanalítico:

- Individual (crianças, adolescentes, adultos) e grupal (casais, família e outros);


c) Supervisão Clínica:

- Para profissionais da área da saúde (médicos, psicólogos, psicanalistas, nutricionistas, entre outros);      

e) Assessoria a escolas:

- Orientação aos docentes, incluídos diretores, supervisores, orientadores e outros profissionais da educação, com vistas à resolução de conflitos e, inclusive, problemas relacionados com o Bullying;

f) Assessoria a empresas e instituições:

         - Para resolução de conflitos na área pessoal e grupal.
Esperamos vocês em nossa sede na Rua Cabral 225, Bairro Rio Branco, Porto Alegre.
Consultas ou informações: (51) 3024 2829 ou aprescoupportoalegre@gmail.com