Os riscos da vida. Medo de
assumir o futuro. (parte 1)
"O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus
assassinos".
(Vicent Van Gogh)
O termo suicídio foi
utilizado pela primeira vez em 1737 por Desfontaines. O significado tem origem no latim, na junção das palavras sui (si
mesmo) e caederes (ação de matar). Esta conotação especifica a morte intencional ou auto-infligida. Num aspecto geral, o suicídio é um ato
voluntário pelo qual um indivíduo possui a intenção e provoca a própria morte. Pode
ser realizado através de atos (tiro, envenenamento ou enforcamento) ou por
omissão (recusa em alimentar-se, por exemplo).
Mais de 1 milhão
de pessoas cometem suicídio a cada ano, tornando-se esta a décima causa de
morte no mundo. Trata-se de uma das principais causas de morte entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade. Entretanto, há uma estimativa de 10
a 20 milhões de tentativas de suicídios não-fatais a cada ano em todo o
mundo.
As interpretações
acerca do suicídio têm sido vistas pelo aspecto cultural em temas existenciais como religião, filosofia, psicologia, honra e o sentido da vida. Albert
Camus escreveu certa vez: "O suicídio é a
grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser
vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia." As religiões
abraâmicas, por exemplo,
consideram o suicídio uma ofensa contra Deus devido à crença religiosa na santidade da vida. No Ocidente, foi muitas vezes considerado como um crime grave. Por outro lado, durante a era dos samurais no Japão, o seppuku era respeitado como uma forma de expiação do fracasso ou como uma
forma de protesto. No século XX, o suicídio sob a forma de auto-imolação tem sido usado como uma forma de protestar, enquanto que na forma
de kamikaze e de atentados suicidas como uma tática militar ou terrorista. O sati é uma antiga prática funerária hindu, na qual a viúva se auto-imola na pira funerária do marido, seja voluntariamente ou por pressão da
família e/ou das leis do país.
Até
aqui como uma introdução ao assunto. E vou pegar por um lado, um viés o
assunto. Articulando esta maneira de saber que “tudo” sobre “Os riscos da vida.
Medo de assumir o futuro” não posso falar hoje numa palestra, esse assunto pode
render um Seminário anual inteiro, quem
sabe, mas o que quero dizer é que
esta é a maneira da psicanálise, já saber de antemão que há um limite, somos
limitados, assim também uma palestra é limitada. Não podemos dizer tudo!
E mesmo ao falar, preciso dizer uma palavra após a outra, não tenho como falar
tudo. Me submeto às leis da linguagem para falar. Assim é a vida do humano. E
tomo o risco de dizer algo, uma parte, de escolher que parte, porque tudo já
sei que não poderei.
Podemos
pensar esta questão do risco... há riscos na vida! Me arrisco a falar de uma
parte do tema, no exemplo que dei. Mas também no cotidiano, o risco de passar
no sinal vermelho... Há profissões que lidam com o risco de vida, mais que
outras, um automobilista, um bombeiro... Há vida em si é um risco. É frágil,
como dissemos tantas vezes: um bebê humano, se alguém não cuida, morre. Mas a criança já maiorzinha, o
adolescente, o adulto também precisa se cuidar para não morrer!
E há
aqueles que por algo inconsciente, se arriscam além dos limites, põem em
risco suas vidas, por assim dizer: testam a morte! Arriscam cada vez mais para
testar os limites, ultrapassar os limites. Estão como que testando a morte!
Talvez se pensem imortais e “com eles não vai acontecer nada”. Tomando o
Carnaval agora, por exemplo, o não uso da camisinha em relações com muitos
parceiros, é um risco, é por sua vida e a do outro em jogo!
Freud
aborda em Psicopatologia da Vida Cotidiana (1900) à
tendência autodestrutiva de muitos sujeitos, evidente ou camuflada, explícita
ou encoberta com aparência de acidentais, mas que testemunham uma inclinação de larga
data, inconsciente e sufocada, a provocar dano a si mesmo. Diferencia ...
Me ocorre aqui um
exemplo, da música “As curvas da Estrada de Santos” ..., mas que ao final o
autor afirma: Mas se um dia um grande amor eu encontrar, nas Curvas da Estrada
de Santos, eu não vou mais passar. Não, não vou mais passar!”
Aqui
não chega a ser um ato falho, mas pode acontecer um ato falho, a pessoa se
“distrair” e “sobrar” numa curva, acontecer um acidente e vir a morrer neste
acidente.
Retomando
a Freud, afirma: “O caráter comum aos casos benignos e aos graves, caráter do
qual participam também os atos falhos e casuais, está na possibilidade
de referir os fenômenos a um material psíquico incompletamente reprimido, que é
rechaçado pela consciência, mas ao que não se despojou de toda a capacidade de
se exteriorizar.”
Pois
um ato falho pode matar, como num acidente!
Parece,
então, que a psicanálise atua como preventivo também do suicídio.
Aula ministrada pela psicanalista Lúcia Bins Ely no curso "Psicanálise na Atualidade" no verão de 2015.