segunda-feira, 27 de março de 2017

O MAL-ESTAR NA CULTURA







"A cultura obedece ao império da necessidade psíquica, pois se vê obrigada a subtrair da sexualidade grande parte da energia que precisa para o seu próprio consumo. Assim, agiria como um povo ou uma classe social que submetera outra a sua exploração. O temor de rebelião dos oprimidos a induziria a adotar medidas de precaução mais rigorosas. Nossa cultura europeia ocidental representa o ponto culminante desse desenvolvimento: negou a existência das manifestações da vida sexual infantil; a eleição de objeto foi limitada ao sexo contrário e a maior parte das satisfações extragenitais proibidas, pois consideradas perversões. A imposição de uma vida sexual idêntica para todos, implícita nessas proibições, desconsidera as diferenças da constituição sexual inata ou adquirida dos homens, privando a muitos deles do gozo sexual. Ainda, a única via aberta, o amor heterossexual, é menoscabado por restrições de legitimidade e de monogamia. A cultura atual nos daria claramente a entender que apenas está disposta a tolerar as relações sexuais baseadas na união única e indissolúvel entre homem e mulher, sem admitir a sexualidade como fonte de prazer em si, aceitando-a tão só como meio de reprodução humana que até então não poderia ser substituído."

Sigmund Freud - 1930


Fragmento da aula "O mal-estar na Cultura" ministrada por Eliane Marques no Seminário "O mal-estar na Sociedade Contemporânea" no dia 25 de janeiro de 2017.


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