"A cultura obedece ao império da
necessidade psíquica, pois se vê obrigada a subtrair da sexualidade grande
parte da energia que precisa para o seu próprio consumo. Assim, agiria como um
povo ou uma classe social que submetera outra a sua exploração. O temor de
rebelião dos oprimidos a induziria a adotar medidas de precaução mais
rigorosas. Nossa cultura europeia ocidental representa o ponto culminante desse
desenvolvimento: negou a existência das manifestações da vida sexual infantil;
a eleição de objeto foi limitada ao sexo contrário e a maior parte das
satisfações extragenitais proibidas, pois consideradas perversões. A imposição
de uma vida sexual idêntica para todos, implícita nessas proibições,
desconsidera as diferenças da constituição sexual inata ou adquirida dos
homens, privando a muitos deles do gozo sexual. Ainda, a única via aberta, o
amor heterossexual, é menoscabado por restrições de legitimidade e de
monogamia. A cultura atual nos daria claramente a entender que apenas está
disposta a tolerar as relações sexuais baseadas na união única e indissolúvel
entre homem e mulher, sem admitir a sexualidade como fonte de prazer em si,
aceitando-a tão só como meio de reprodução humana que até então não poderia ser
substituído."
Sigmund Freud - 1930
Sigmund Freud - 1930
Fragmento da aula "O mal-estar na Cultura" ministrada por Eliane Marques no Seminário "O mal-estar na Sociedade Contemporânea" no dia 25 de janeiro de 2017.
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