segunda-feira, 15 de abril de 2013

As Ciências Humanas Parte 1


                        FREUD

Freud, em seu texto História do Movimento Psicanalítico, escreve que : A Interpretação dos Sonhos, o livro sobre O Chiste e sua relação com o Inconsciente e outros trabalhos seus haviam mostrado desde o princípio que as teorias da psicanálise não podiam permanecer limitadas ao campo da Medicina, mas sim que eram suscetíveis de aplicação a outras diversas ciências de espírito.

Vemos aí a psicanálise se desprendendo da Medicina, daquilo ligado ao corpo fisiológico humano, e adentrando um campo mais próximo à antropologia (para citar Estrutura de parentesco de Claude Lévi-Strauss...) e à Linguística (Ferdinand de Saussure). Ou melhor, vemos que Freud partiu da medicina para chegar nas ciências de espírito. A psicanálise já nasce aí.

Em outro texto: Autobiografia (1925), Freud expressa que seu interesse eram os valores filosóficos, no entanto, primeiro procurava estas questões na fisiologia anatômica do corpo humano. Quando estudando com Charcot propôs um estudo que comprovava que as dores histéricas não estavam marcadas pelo mapa fisiológico do corpo, mas por concepções vulgares, populares, ou subjetivas, do corpo. Como exemplo traz uma histérica que diz estar sentindo dor no coração, e refere a outro lugar no corpo não onde anatomicamente este está localizado. Ou seja, o corpo físico, a medicina que aborda o fisiológico humano não é capaz de dar conta da neurose!

Freud se deu conta de que estudar anatomicamente as lesões cerebrais, com isso ele não podia auxiliar os pacientes que sofriam destas enfermidades. E era isso o que ele queria: auxiliá-los em suas enfermidades. Assim se norteou a estudar: o que era isso que produzia a paralisia na neurose histérica, por exemplo.

E assim foi enveredando para as ciências humanas, ou como ele chamava: ciência de espírito. Para enfim se dizer: “médico de almas”.

                        FILOSOFIA

Na carta de 1º de janeiro de 1896 a Wilhelm Fliess, Freud escreve:  “Observo que, pela via tortuosa da clínica médica, você está alcançando seu ideal primeiro de compreender os seres humanos enquanto fisiologista, da mesma maneira que alimento secretamente a esperança de chegar, por essa mesma trilha, a minha meta inicial da filosofia. Pois era isso o que eu queria originalmente, quando ainda não me era nada clara a razão de eu estar no mundo.”
                        Freud quer auxiliar os pacientes em seu sofrimento, não apenas uma teoria (como é a filosofia) quer uma prática... E chamamos, então na ciência de práxis: com suas investigações clínicas transformava a teoria. Formulando então esta presença da psicanálise como uma ciência de espírito, ou ciência humana. Mas com uma práxis.

Freud a chama: a nova ciência. Que está situada nas humanas, mas o seu rigor científico a localiza como ciência. Com um objeto e um método diferentes das ciências positivistas, mas nem por isso deixa de ser ciência.

A filosofia e a psicanálise possuem as mesmas questões: a vida, a morte, a sexualidade, a ética, a verdade... Mas abordam tais questões de maneiras diferentes.
Em sua autobiografia, Freud revelou que em seus anos juvenis não sentia predileção especial nenhuma pela atividade médica, nem tampouco sentiu depois. O que o dominava era uma espécie de curiosidade relativa mais às circunstâncias humanas...

Sua profunda dedicação aos escritos bíblicos (iniciada quase ao mesmo tempo em que aprendeu a arte da leitura) teve, como o reconheceu muito depois, um prolongado efeito na linha de seus interesses.
Freud também nos revela que foi a leitura do ensaio goethiano A Natureza, escutado numa conferência de popularização científica, que o fez decidir finalmente  a inscrever-se na Faculdade de Medicina.

E, mais adiante, sobre sua experiência universitária disse que essa lhe impôs a verdade do Mefistófeles goethiano: “Em vão vagais pelos domínios da ciência; ninguém aprende senão aquilo que lhe está dado a aprender”.



Lúcia Bins Ely
psicanalista
(*Partes da aula de abertura do Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S. FREUD)

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