FREUD
Freud,
em seu texto História do Movimento
Psicanalítico, escreve que : A
Interpretação dos Sonhos, o livro sobre O
Chiste e sua relação com o Inconsciente e outros trabalhos seus haviam
mostrado desde o princípio que as teorias da psicanálise não podiam permanecer
limitadas ao campo da Medicina, mas sim que eram suscetíveis de aplicação a
outras diversas ciências de espírito.
Vemos
aí a psicanálise se desprendendo da Medicina, daquilo ligado ao corpo
fisiológico humano, e adentrando um campo mais próximo à antropologia (para
citar Estrutura de parentesco de Claude Lévi-Strauss...) e à Linguística
(Ferdinand de Saussure). Ou melhor, vemos que Freud partiu da medicina para
chegar nas ciências de espírito. A psicanálise já nasce aí.
Em outro texto: Autobiografia (1925), Freud expressa que
seu interesse eram os valores filosóficos, no entanto, primeiro procurava estas
questões na fisiologia anatômica do corpo humano. Quando estudando com Charcot
propôs um estudo que comprovava que as dores histéricas não estavam marcadas
pelo mapa fisiológico do corpo, mas por concepções vulgares, populares, ou
subjetivas, do corpo. Como exemplo traz uma histérica que diz estar sentindo
dor no coração, e refere a outro lugar no corpo não onde anatomicamente este
está localizado. Ou seja, o corpo físico, a medicina que aborda o fisiológico
humano não é capaz de dar conta da neurose!
Freud se deu conta de
que estudar anatomicamente as lesões cerebrais, com isso ele não podia auxiliar
os pacientes que sofriam destas enfermidades. E era isso o que ele queria:
auxiliá-los em suas enfermidades. Assim se norteou a estudar: o que era isso
que produzia a paralisia na neurose histérica, por exemplo.
E assim foi enveredando
para as ciências humanas, ou como ele chamava: ciência de espírito. Para enfim se dizer: “médico de almas”.
FILOSOFIA
Na carta de 1º de
janeiro de 1896 a Wilhelm Fliess, Freud escreve: “Observo que, pela via tortuosa da clínica
médica, você está alcançando seu ideal primeiro de compreender os seres humanos
enquanto fisiologista, da mesma maneira que alimento secretamente a esperança
de chegar, por essa mesma trilha, a minha meta inicial da filosofia. Pois era
isso o que eu queria originalmente, quando ainda não me era nada clara a razão
de eu estar no mundo.”
Freud quer auxiliar os
pacientes em seu sofrimento, não apenas uma teoria (como é a filosofia) quer
uma prática... E chamamos, então na ciência de práxis: com suas investigações clínicas transformava a teoria.
Formulando então esta presença da psicanálise como uma ciência de espírito, ou
ciência humana. Mas com uma práxis.
Em sua autobiografia,
Freud revelou que em seus anos juvenis não sentia predileção especial nenhuma
pela atividade médica, nem tampouco sentiu depois. O que o dominava era uma
espécie de curiosidade relativa mais às circunstâncias humanas...
Sua profunda dedicação
aos escritos bíblicos (iniciada quase ao mesmo tempo em que aprendeu a arte da
leitura) teve, como o reconheceu muito depois, um prolongado efeito na linha de
seus interesses.
Freud também nos revela
que foi a leitura do ensaio goethiano A
Natureza, escutado numa conferência de popularização científica, que o fez
decidir finalmente a inscrever-se na
Faculdade de Medicina.
E, mais adiante, sobre
sua experiência universitária disse que essa lhe impôs a verdade do Mefistófeles
goethiano: “Em vão vagais pelos domínios da ciência; ninguém aprende senão
aquilo que lhe está dado a aprender”.
Lúcia Bins Ely
psicanalista
(*Partes da aula de
abertura do Seminário INICIAÇÃO À OBRA DE S.
FREUD)
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